Quando se vai um, daqueles que não separam pessoas por cor, por etnia ou por simples gosto. Quando morre uma pessoa que soube honrar um povo discriminado e crer nos mecanismos necessários para criar cidadania, se perde muito, muito mais que apenas uma pessoa.
O modelo que hoje existe na Espanha, fez com que as pastas ministeriais criadas por ele tomassem direção e estivessem firmes.
Desde Brasil, os nossos pêsames aos nossos irmãos - ciganos espanhóis, que hoje estão órfãos de um homem, um amigo, um irmão.
AMSK/Brasil
Te avel lohki leski phuv! Sasa baro Manuš
Da Union Romani nós queremos nos unir à dor que hoje
experimentam a imensa maioria dos cidadãos espanhóis pela perda daquele que era
um dos criadores principais da transição espanhola, ao tempo que nós queremos
mostrar a sua família nossas condolências e o nosso mais profundo sentimento.
E aqui poderia terminar esse comunicado que não por sua
brevidade deixaria de ser menos fiel a nossos sentimentos. Mas nós temos a
necessidade de dizer algo mais. Don Adolph Suarez e ao lado dele um número
reduzido de seus ministros, mostraram desde o primeiro dia de sua ação do
governo na democracia, um interesse especial em saber (conhecer) e resolver os
problemas infinitos que enfrentavam o nosso povo.
Sob o mandato do presidente Suarez se consentiu no Congresso
dos Deputados o primeiro e único cigano espanhol, Juan de Dios Ramirez-Heredia,
que teve a imensa honra de ajudar no processo da transição e na escrita da Constituição
Espanhola. Desde nossa organização nós podemos dar o testemunho do interesse
especial que teve o presidente em que fosse respeitado não somente o que Juan
de Dios Ramirez-Heredia representava, mas sua própria identidade ideológica que
sempre respeitou e nunca censurou.
O presidente Suarez foi o impulsor da criação da Comissão
Interministerial para o estudo e a atenção do Povo Cigano, Comissão que teve
como principal encarregado, o Dr. Bald Buezas,
de fronteiras universais, um cigano entre os ciganos.
O presidente Suarez
favoreceu e deu ao impulso às chamadas “pontes escolas”. Com 80% de
analfabetismo cigano em 1977 era necessário começar com uma ação de choque em
que não somente recursos econômicos fossem usados, mas muita imaginação.
Sob sua presidência e impulso ocorreu um programa que eliminou
outro dos grandes problemas que padeciam o nosso povo desde épocas imemoráveis:
a falta dos papéis. Muitos de nossos antepassados não tinham o registro civil.
E sem papéis nós não existíamos e nem tínhamos direito a toda a sorte do
benefício. Custou esforços, mas os frutos hoje, nossas crianças os colhem.
E sob a presidência de Adolph Suarez, após uma intervenção
histórica do presidente da Union Romaní no Congresso dos Deputados, de toda a
câmera, da direita, da esquerda e do centro votaram favorável a eliminação de
três artigos do regulamento oposto do protetor civil que eram abusivos à
dignidade de ciganos e espanhóis, do que o cidadão merecia.
Um grande homem do estado, um político excepcional partiu,
mas principalmente se foi um homem de grande sensibilidade que em todo o momento
conseguiu se conectar com os povos simples, com os mais necessitados.
Os ciganos espanhóis; naqueles anos duros e cheios de
incertezas o consideramos como algo nossos.
Por essa razão hoje, com dor infinita, nós sentimos na alma que algo
nosso partiu.
Consola-nos, isto sim, que como dizemos todos os ciganos do
mundo na altura de dar os pêsames em nossa língua, a Providencia o terá destinado um lugar privilegiado entre todos os grandes
homens: Te avel
lohki leski phuv! Sasa baro Manuš
Manuel García Rondón
Secretario Geral da Unión Romani
(1) Literalmente: “Que sua terra seja amável com todos os grandes homens”
Tradução: AMSK/Brasil