Mapa de Memória Romani nas Américas

 


 



Chamada para Contribuição

Mapa de Memória Romani nas Américas

 

A situação problemática dos direitos humanos do povo romani está no centro das preocupações dos países europeus e está ganhando cada vez mais força fora da Europa.  A discriminação contra os romanis foi objeto da Recomendação Geral 27 do CERD de 2000, bem como da Resolução 26/4 do Conselho de Direitos Humanos de 2014, que reconhece que o este povo enfrenta há séculos violações generalizadas dos direitos humanos, discriminação, rejeição, exclusão social e marginalização em todo mundo e em todas as esferas da vida. A situação do romanis foi objeto de amplos acordos durante a Conferência Mundial contra o Racismo e sua conferência de seguimento em 2009[1].

 

Em vários âmbitos dos direitos humanos, há uma crescente atenção dada ao estigma como um fator de violação desses direitos[2].  No caso dos romanis e grupos correlatos[3], essa forma específica de racismo é chamada de “anticiganismo”[4].  Em 2015, o Relator Especial sobre Questões de Minorias publicou um estudo abrangente sobre a situação global dos direitos humanos do povo romani[5], dando especial atenção às violações de direitos humanos causadas pelo anticiganismo.  Nos últimos anos, vários governos, atores da sociedade civil, instituições nacionais de direitos humanos e organismos de promoção da igualdade dedicaram esforços para combater a discriminação e outros abusos contra os romanis, buscando abordar as causas subjacentes dessa opressão.

 

Nos últimos anos o escritório do ACNUDH também dedicou esforços significativos para combater o anticiganismo, bem como para fortalecer os direitos dos romanis nas Américas. Sob a iniciativa do Relator Especial sobre Questões de Minorias, o OHCHR produziu dois documentos sobre a situação dos direitos humanos da comunidade em questão, com o objetivo de incentivar os países americanos a tomar medidas em prol da igualdade. O primeiro, de 2016, é o relatório do Seminário Regional sobre a Situação do Povo Romani nas Américas (A/HRC/31/CRP.2), realizado após o evento "Roma nas Américas" em Brasília (Brasil). Em 2017 foi realizada a segunda reunião "Roma nas Américas" e seus principais resultados e recomendações aos Estados foram publicados no relatório anual do Relator Especial sobre Questões de Minorias (2017). Em setembro de 2022, o ACNUDH convocou uma reunião global sobre Romanis e Memorialização e, em maio de 2023, o ACNUDH organizou uma reunião de acompanhamento sobre a Memorialização como Estratégia para Combater o Anticiganismo nas Américas[6].

 

O povo romani e a memorialização

 

O anticiganismo permitiu que a história e a memória do povo romani fossem apagadas dos espaços públicos e/ou distorcidas pela memória coletiva. Esse fenômeno teve fortes implicações negativas para a vida e a dinâmica dessas comunidades.

 

A história e a memória das comunidades romanis em todo o mundo estão quase totalmente ausentes das narrativas oficiais de seus países. Quando esta comunidade aparece nas histórias oficiais, na maioria dos casos as informações são tendenciosas e atravessadas por estereótipos e preconceitos. Os períodos de escravidão, o Holocausto, os despejos e as expulsões, a esterilização coercitiva de mulheres romanis e outros episódios de perseguição ainda não foram devidamente reconhecidos ou comemorados. Ao mesmo tempo, as contribuições positivas das comunidades romanis para a sociedade também foram apagadas da história oficial.

 

Nos últimos anos, essa situação começou a se modificar lentamente graças aos esforços das novas gerações de ativistas ciganos e dos defensores dos direitos humanos. A recente remoção de uma fazenda de porcos no local onde funcionou o campo de concentração Lety u Pisku (República Checa) durante a Segunda Guerra Mundial é um sinal de mudança, embora seja uma vitória que levou quase três décadas para ser alcançada[7].

 

O Relator Especial da ONU sobre a promoção da verdade, justiça, reparação e garantias de não-recorrência tem dedicado cada vez mais atenção às questões relacionadas à memorialização. Ele destaca

 

 "o papel crucial dos processos de memorialização no contexto da justiça transicional, que é totalmente reconhecido pelas normas e padrões do direito internacional contemporâneo. O trabalho sobre essas violações do passado permite refletir sobre o presente e identificar questões contemporâneas relacionadas à exclusão, à discriminação, à marginalização e aos abusos de poder, muitas vezes ligados a culturas políticas tóxicas. O trabalho de memória positiva contribui para o desenvolvimento de culturas democráticas que respeitam os direitos humanos e atende a obrigação legal dos Estados de garantir os direitos humanos"[8]. 

 

Por sua vez, o Relator Especial sobre direitos culturais também afirma que:

 

"Em muitas sociedades, o ensino de história ignora totalmente ou transmite, valida ou reforça estereótipos sobre grupos marginalizados, em especial minorias e povos indígenas, bem como mulheres e pobres.  A narrativa homogeneizadora dominante apaga a diversidade ao ignorar a herança cultural de todos aqueles que não pertencem ao grupo no poder, ao mesmo tempo em que priva a maior parte da sociedade da oportunidade de entender a complexidade de seu país"[9].

 

Como consequência do racismo e da ausência dos ciganos na memória oficial, os legados do anticiganismo continuam sendo uma força viva e poderosa em todo o mundo.

 

Mapa da Memória Romani nas Américas

 

Para abordar esse aspecto do anticiganismo e promover a inclusão, propõe-se a criação de um Mapa da Memória Romani nas Américas. Os principais objetivos desse projeto são:

 

a. Incentivar a criação de espaços públicos e privados de memória romani ou a promoção dos já existentes, com o objetivo de, entre outras coisas, reconstruir e dar um novo significado à memória apagada;

 

b. Incentivar a inclusão da memória romani nas histórias/narrativas nacionais;

 

c. Promover a expansão da informação pública sobre o povo romani, incluindo a produção de dados desagregados com o objetivo de apoiar a implementação dos ODSs no que se refere à comunidade; e promover o monitoramento das falhas na implementação efetiva dos direitos humanos dos romanis empreendida pelos Estados, levando em conta aspectos de gênero e interseccionalidade.

 

d. Promover a pesquisa acadêmica ou informal sobre o povo romani nas Américas, com a participação e a liderança de acadêmicos e especialistas pertencentes a este grupo.

 

e. Promover a conscientização e o reconhecimento, no espaço interamericano, do anticiganismo como uma forma específica de racismo contra o povo romani.

 

f. Promover políticas públicas de memória para os povos romanis nas Américas, garantidos pela resolução 3/2019 da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, no documento intitulado "Princípios sobre Políticas Públicas de Memória nas Américas".

 

g. Promover o reconhecimento oficial de datas específicas para o povo romani e suas respectivas comemorações em nível nacional, como 8 de abril, Dia Internacional do Povo Romani, e 2 de agosto, Dia Internacional do Holocausto Romani (Samudaripen).

 

O Mapa da Memória Romani também pretende ser uma contribuição para as comemorações do 80º aniversário do Dia Internacional do Holocausto Romani, dia 2 de agosto de 2024, aniversário da liquidação do setor denominado "Zigeunerlager", parte do campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, em um episódio no qual foram assassinadas milhares de pessoas romanis pelas forças nazistas.

 

Como contribuir para a elaboração do Mapa da Memória Romani?

 

O Mapa da Memória Romani é um projeto coletivo. Qualquer pessoa pode participar. Para isso, os proponentes têm de preencher um formulário Outlook (ver abaixo as perguntas do formulário), propondo um Ponto de Memória Romani. No formulário os participantes também podem acrescentar links de fotografias e vídeos que podem ser incorporados ao mapa.

 

O formulário está disponível em: https://forms.office.com/e/nGaZ5BL2Tq

 

O mapa dará o devido reconhecimento à pessoa ou entidade que apresentar uma proposta. Esta deve ter o direito de publicar a informação fornecida, ou seja, a informação não deve estar protegida por direitos de autor, ser confidencial ou legalmente privilegiada. As pessoas serão também convidadas a apresentar uma declaração afirmando que, tanto quanto é do seu conhecimento, nenhuma pessoa corre o risco de ser prejudicada, de qualquer forma, pela publicação do material proposto.

 

O envio de material não implica a sua publicação automática. Os textos, imagens e outros materiais apresentados serão avaliados por um comité científico. O comité reserva-se o direito de rejeitar propostas que não sejam consideradas relevantes ou apropriadas para este projeto.

 

O mapa será criado em uma plataforma aberta e disponibilizado publicamente na Internet.

 

Em que devem consistir as propostas?

 

Um Ponto de Memória Romani é um lugar de memória que aparecerá no mapa. O proponente pode apresentar lugares de memória de diferentes tipos: museu ou arquivo documental sobre o povo romani; localidades, ruas e parques; cemitérios, casas ou locais de nascimento de uma personalidade romani; bairro caracterizado pela presença romani no passado ou no presente; local onde ocorreu um evento trágico na história romani; centros culturais romanis etc.

 

A demanda pela revalorização da memória também pode ser de diferentes naturezas: mudar os nomes de localidades, ruas e parques; sinalizar os locais onde ocorreu um evento trágico relacionado ao povo romani com placas informando sobre o passado; erguer novos monumentos e estátuas com o objetivo de mudar a "paisagem da memória"; organizar comemorações oficiais e não oficiais relacionadas a eventos e/ou figuras históricas; criar museus e exposições presenciais, itinerantes e on-line; solicitar o reconhecimento público de uma personalidade romani; solicitar a construção de um museu, um centro de memória ou um centro cultural romani em um bairro; solicitar a inclusão de informações sobre o povo romani em um museu, biblioteca ou arquivo documental. Os organizadores receberão essas solicitações e avaliarão como agir em relação a elas. Os organizadores não podem se comprometer com nenhuma ação específica, mas se esforçarão para avaliá-las, com o objetivo de tomar medidas em torno das comemorações do 80º aniversário do Dia Internacional do Holocausto Cigano.

 

Para propor um Ponto de Memória Romani, recomenda-se que o participante apresente documentos que fundamentem e reforcem a sua proposta. Esses documentos podem ser: artigos de jornal, testemunhos orais, documentos oficiais, etc.

 

Aceitamos propostas em inglês, espanhol, português e francês.

 

Prazo final

 

O prazo final para envio de propostas é 31 de agosto. O Mapa da Memória Romani nas Américas será publicado em dezembro de 2023.

 

Perguntas do Formulário Outlook

 

·         Nome:

·         E-mail:

·         Afiliação institucional (se aplicável):

·         Localização física do Ponto de Memória Romani (endereço/localização/cidade/bairro/país):

·         Localização no GoogleMaps, se aplicável:

·         Há alguma referência à memória romani nesse local? Em caso afirmativo, descreva-a, apontando suas qualidades ou deficiências e como ela pode ser melhorada, se for o caso.

·         Se não houver referência à memória romani nesse local, apresente-o brevemente e justifique por que esse espaço deve ser um Ponto de Memória.

·         Trata-se de um espaço público ou privado?

·         Você gostaria de propor a construção de uma estátua, museu, placa ou outro dispositivo nesse local? Qual seria a sua proposta?

·         Você gostaria de adicionar fotos a este Ponto de Memória? Em caso afirmativo, insira o link (URL) das fotos aqui. As fotos não precisam ser de sua autoria, mas devem ser de domínio público ou demonstrar que possuem direitos de uso público.

·         Você deseja adicionar vídeos a este mapa? Em caso afirmativo, insira o link (URL) do vídeo aqui. O vídeo não precisa ser de sua autoria, mas deve ser de domínio público ou demonstrar direitos de uso público.

·         Existe alguma documentação para apoiar sua proposta? Em caso afirmativo, adicione-a aqui.

·         Aceito e ratifico a seguinte declaração: "Tenho o direito de publicar as informações e/ou os materiais enviados. As informações enviadas não são protegidas por direitos autorais, confidenciais ou legalmente protegidas. Declaro ainda que, até onde sei e acredito, não estou colocando nenhuma pessoa em risco de sofrer danos ou outros prejuízos ao enviar esses materiais ou ao propor publicá-los".

 



[2] En un informe de 2013 del Relator Especial de las Naciones Unidas sobre la Tortura, Juan Méndez, sobre la tortura en los centros de atención sanitaria, se examinó las "identidades estigmatizadas" como motor de la vulneración de los derechos humanos, y se señaló que "muchas políticas y prácticas que dan lugar a abusos en los centros de atención sanitaria se deben a la discriminación de las personas marginadas". La discriminación desempeña un papel predominante porque "los prejuicios suelen ser la base de esas violaciones" (A/HRC/22/33, párrs. 36-38).

[3] En el contexto del continente americano, incluye a los Roms, Calons, Ciganos, Gitanos, Ludar, Boyash, Travellers y otros. En esse documento se utiliza “Roma” o “Romaní” para hablar de todos esos grupos.

[4] La Alianza contra el Antigitanismo define el antigitanismo de la siguiente manera: "El antigitanismo es el racismo específico hacia los romaníes, los sinti, los nómadas y otras personas estigmatizadas como "gitanos" en el imaginario popular". (http://antigypsyism.eu/).

[6] Para obter mais informações sobre o trabalho do OACNUDH em relação aos direitos romanis: https://www.ohchr.org/en/minorities/advancing-roma-inclusion .