Nota Pública 
Ass. Internacional
Maylê Sara Kalí – AMSK/Brasil
Mudaripên significa matança – e foi
exatamente isso que presenciamos mais uma vez. Não esperamos aqui colocar
palavras que expressem o tamanho ou a aberração que foi e continua sendo uma operação
como essa, que desrespeita inclusive, os que a executam, mas também os que são
executados, assassinados, os inocentes mortos, os que costumamos chamar de “efeito
colateral”, os vivos que hoje estão mortos por dentro, na dor e na total falta
de condições de sequer tentar explicar ações como as que ocorreram no Rio de
janeiro e que acontecem diariamente em tantos territórios que desconhecem seus
filhos e filhas.
Enquanto sociedade civil
organizada e pessoas de etnia romani que reconhecem o Barô Mudaripên/Samudaripên
como realidade vivida a mais de 80 anos e todas as formas que se reinventam a
violência e o racismo, que reconhece a estratégia do fascismo e da completa falta
de humanidade em tais ações é preciso dar um basta.
Quem jurou protegê-los? O terno e
a gravata do gabinete acarpetado. A caneta que assinou a ordem e as fileiras
que obedeceram. O suposto cristão que se sentiu vingado de suas próprias misérias,
os homens e mulheres de bem que viraram o rosto e depositaram seus votos no
ódio e no poder.
Quem morreu? Morremos todos nós,
um pouco a cada chacina travestida de segurança pública. Vagabundo se tornou o segundo
nome de todos nós e a tal chamada segurança não é mais um refúgio de lar,
família, amigos, igreja, escola ...
Os atos com requintes de
crueldades, foram executados por seres humanos e os corpos abatidos também. Essa
conta e essa lógica não fecham.
Nos manifestamos pelo direito a
uma refeição, a uma escola, um trabalho e uma vida sem marcas de tanto sangue
inocente. Que a nossa cor de pele e nossa origem étnica não nos transforme em
alvos móveis. Que a nossa classe social não seja determinante do direito de
existir. As favelas e as barracas/ranchos, dividem a marca de serem
descartáveis, sem traços de humanidade, condenados no ventre de suas mães. 
Continuaremos na construção de um
dron humanitary – um caminho que respeite a nossa humanidade e mesmo que á 80
anos atrás, o mundo tenha silenciado o choro das nossas mães e avós, não nos silenciaremos
as lágrimas, a realidade e a dor das mulheres que hoje enterram seus filhos.

