Em 2022 a AMSK/Brasil completa 13 anos

 2022

A AMSK/Brasil completa 13 anos


         1ª Logo - 2008 e registrada oficialmente em 5 de janeiro de 2009.
   (arquivo AMSK/Brasil)

Há um certo encantamento no ar. Mais precisamente no dia 05 de janeiro de 2009 nascia a pessoa jurídica a quem carinhosamente chamamos de Maylê Sara Kalí – sigla AMSK/Brasil.

A cada ano acabamos recordando algumas situações com as quais tivemos de aprender a lidar e hoje elas fazem muito sentido. O encantamento fica por conta das lembranças que nos trazem aconchego e senso de luta, de história e de respeito.

 

Logomarca criada por JR2 em 2019, por ocasião dos 10 anos de fundação da AMSK/Brasil

A rosa da Maylê, o “S” de Sara e o círculo que envolve tudo isso, sempre fizeram muito sentido para todas nós e a cada ano eles se solidificam. Assim como os números dessa jornada. Foram mais de 7 missões internacionais, incontáveis abraços e viagens, escutas e congressos, muitos materiais produzidos, muitas revisões também (não somos infalíveis), webinários, construções de protocolos, portarias, ofícios, algumas despedidas ... reconhecimento nacional, público e internacional do nosso trabalho.


 

A “Rosa da Maylê” é azul e representa as mulheres fortes que foram e são a base da organização:

- Jamais te esquecerei e tudo isso é simples. As flores azuis são raras e a rosa azul precisa ser construída. São símbolos e contos que permeiam os miosótis azuis e o caráter de Sara: amiga e companheira, leal e distinta dos demais;

- O “S” de Sara Kalí – a mulher de pele amendoada, aquela que aponta o caminho, garante a passagem, o alimento e a escuta;

- O “Círculo”: movimento contínuo, que anda e faz girar. O caminho que segue, a roda.

Quando chegamos as portas de um ano no mínimo desafiador, temos que nos alimentar desses 3 pilares que serão testados em 2022. Não nos esquecermos uns dos outros, enquanto mulheres, pessoas e seres humanos, seguir construindo caminhos possíveis de diálogo, negociação de conflitos, possibilidades e ajudas em rede, além de deixar claro que caminhar significa respeitar o passado, construir o presente e ter os olhos para o futuro. É claro o entendimento de que anos a fio na discussão de querelas sem fim, desrespeito e estereótipos, causou danos de dimensões inimagináveis e que algumas delas permeiam inclusive gabinetes e órgãos oficiais.

Essa agenda de contornos mais arrojados, com bolsas de estudo, formação continuada, escuta qualificada e mesas de debates, nos impõe um olhar mais crítico, sem perder a acolhida. A tentativa de nos impor um ritmo, próprio das academias, de movimentos sociais diversos e de inúmeros outros “pré-requisitos”, trouxe a figuração dos chamados “ciganos verdadeiros”, recheados de supostas tradições que não se alicerçam nem nos livros e pesquisas, nem nas figuras quase grotescas de um Brasil misógino, machista, preconceituoso e racista.

Não há mundo paralelo do “Foro” que tenta impor a educação para fora da vida das meninas e mulheres, que repudia as novas agendas mundiais e que se nega a enxergar o que está posto. Uma globalização às avessas.  Não mais na ideia central do místico, sob o véu de uma suposta cultura forjada no desconhecimento de si mesmo, muitos, no mundo todo, estão dizendo não ao retrocesso e ao aculturamento e esse novo olhar precisa ser acolhido e rápido.

O ano 2022 vai exigir de todas e todos nós um outro olhar sobre essa nação transnacional, sobre seu efeito perturbador e com “ares de normalidade”. Vai exigir que tenhamos a coragem de discutir sobre saúde mental, drogatização, mídia social, trabalho e renda, violência de gênero e rromafobia. É preciso parar de repetir livros e conceitos, e ousar avançar, sair do quadrado e impor os contornos dos quais não poderemos mais fugir. Temos de seguir andando e a melhor forma de fazer isso é nos juntando.

O ano 2021 terminou com três tragédias significativas, uma na República Tcheca - Stanislav Tomáš, relembre aqui  http://amskblog.blogspot.com/2021/06/nota-publica-vidasromanyimportam.html ou a execução de Moraes de 13 anos no Brasil, morto a tiros em meio a familiares numa farmácia no centro de Vitória da Conquista - BA http://amskblog.blogspot.com/2021/07/comunicado-publico-vidasromanyimportam.html - #VidasRomanyImportam e em 17 de novembro, Olga de 8 anos, fica 70’ sendo esmagada por um portão de fábrica, até a sua morte, sob os olhos desumanos dos funcionários - https://www.keeptalkinggreece.com/2021/11/26/roma-girl-olga-crashed-factory-door/ . Foi também o ano em que mais sofremos com o descaso do Estado, e as mortes por COVID-19 se multiplicaram. Sem ajuda, sem política e comida.

2022 começou com os desastres naturais e o forte impacto na saúde mental de tantos. Precisamos falar do luto e da depressão.

2022 também será o ano de sufocamento para as organizações da sociedade civil. Ano de eleição e de maquiar uma realidade que se aprofunda cada vez mais na falta de dados (atrás de cada número existe uma pessoa) e das maquiagens em programas onde a “família e a igreja” assumem a responsabilidade do Estado. Podem chamar de estado mínimo ou necropolítica mesmo.

A violência vai ampliar e isso não é um presságio ou algo místico, dito por mulheres bruxas ou “ciganas”. Isso é real. Nada contra o sexto sentido, muito pelo contrário, bem usado, ele nos ajudou a considerar nossos anos de experiência e transformá-los em possibilidades.

Temos de levar em conta a violência produzida pela mídia, alimentada e posta sucessivamente em prova. Mensagens em série prevendo catástrofes, chips de vacina, mudanças genéticas e até a extinção da humanidade são fáceis de encontrar, a isso damos o nome de exclusão digital. No caso do Povo Romani essa provavelmente seria a maior representação do cotidiano e da violência normatizada. É senso comum e isso é no mínimo perigoso, violento, desrespeitoso e desumano. Não há punição, não há regra e não há senso a ser seguido. Toda a forma de violência é permitida nesse caso e justificada também. Nada disso sumirá como em passe de mágica. Teremos um ano de eleição em meio a uma multidão de famintos por comida, trabalho, saúde ou simplesmente por respeito a vida.

Dias como o de hoje para nós, nos dá a dimensão das lembranças, das expectativas e nos faz avaliar contextos e surpresas. Que venham mais 13 anos. Que cheguem trazendo irmãos distantes, amigos cansados, sobrinhos novos.

O mais gratificante dessa jornada é constatar que a “Maylê” está na primeira referência de todos aqueles que tem caminhado conosco. Maylê é casa, lugar seguro, abraço apertado e acima de tudo, é leal aos seus princípios. Somos mais que AMSK/Brasil, somos Maylê, onde quer que estejamos, onde quer que os caminhos nos levarem.

Aos parceir@s, amig@s e membr@s da AMSK/Brasil, com gratidão e respeito, obrigada pela caminhada.

05 de janeiro de 2022

Ass. as fundadoras da AMSK/Brasil