Falar da trajetória, campos de atuação e desafios é falar de todas e todos nós. Principalmente porque não se trata da Elisa – se trata da causa. Por isso, trago um pedacinho da vida dessas mulheres e pessoas. Sou um pedaço delas.
Elisa Costa - Presidenta da AMSK/Brasil
https://www.youtube.com/watch?v=rEbScAe8f1U&list=PLmF1rZvvHaMqZod5DD_koEL27SQEXW-SE
ABA, 8 de
Outubro de 2021
Começar qualquer
evento, começar os dias e as noites agradecendo é muito bom, nos lembra de
gratidão, respeito e nos faz compreender que apesar dos inúmeros caminhos que a
vida nos dá, podemos e devemos escolher com quem caminhar, como caminhar e de
que forma continuar seguindo.
Portanto, muito
obrigada pelo convite Prof.ª Patrícia Goldfarb e nais tukê a juliá Patrícia – a
mulher por trás dos títulos e faço assim, referência a tudo o que significa ser
julía – mulher, no nosso país e no nosso cotidiano. Particularmente tenho na
minha formação enquanto pessoa e mulher a trajetória de mulheres fortes e com
princípios bem definidos. Obrigada ao professor Cleiton Maia. Cumprimento a
todas e a todos nas pessoas da dra. Voria Stefanovsky (prima e irmã de tantas
lutas e organização irmã da AMSK/Brasil – Observatório de Mujeres Gitanas) e ao
Dr. Jucelho Dantas (um irmão de luta), que são expoentes de luta, reflexões e
ações de extrema importância para toda a Rromà.
Trajetórias
Não há como falar de
trajetórias, sem que o nome de Dona Fia e o nome de Sara sejam mencionados.
Isso para sintetizar os nomes de muitas outras mulheres que construíram o
universo e o cotidiano da AMSK.
Aproximadamente no ano
de 2000, começamos a identificar inúmeras demandas relacionadas a depressão, havia
nessa época um número razoável de andarilhos, algumas notícias apareciam mais
pontualmente nas mídias. No Brasil Minas, Goiás e São Paulo e em especial as
que chegavam da França, Itália e as repercussões de Kosovo. No dia 24 de maio
de 2004 em meio a uma slava nasce o projeto/laboratório – com o nome de Grupo
Sara Kalí e em 05 de janeiro de 2009 a AMSK/Brasil nasceu enquanto pessoa
jurídica.
A história dessas
mulheres e de todas as outras mulheres que compõem a organização, a irmandade, parcerias
e amigos são questões que guardamos com base na confiança, no respeito e no
entendimento de que não há trajetória que se faça sozinha.
Por
vezes falar esclarece,
Por
vezes se calar clareia os pensamentos,
Por
todas essas vezes, apenas repita: Me, me, me sem...
Maylê é um apelido, que
carinhosamente serviu para muitas mulheres e representa colo, aconchego e casa.
Maylê era como chamávamos carinhosamente a fundadora da AMSK. Mas também era
como ela se referia a organização.
A carta de princípios resume bem o que pensamos, como pensamos e como forjamos cotidianamente nossas ações. Estão disponível no website amsk.org.br, no canal e nas redes sociais.
Campos
de atuação e desafios
Saúde, educação,
memória e história sempre fizeram parte da base da organização e não
desvinculamos da cultura e do direito à justiça.
Por isso o centro da
agenda da AMSK é a pessoa e não as inúmeras caixinhas, complexas, confusas, que
impedem e muitas vezes estabelecem ilusões e folclores que permeiam inclusive
as prateleiras das universidades. Por isso mesmo nos dedicamos a reconstruir
trajetórias, buscar informações e analisar dados e microdados, até então
desprezados, não utilizados, apagados ou subdimensionados. Se você de fato
acredita que por detrás de um número, existe um uma pessoa e, portanto, um
universo, isso toma um novo rumo.
Solidificar dados
estatísticos que se aproximem minimamente da realidade é fundamental. Portanto,
qualificar informação, desconstruir estereótipos e ao mesmo tempo fugir da
teoria do “Balaio” onde as estratégias são postas muitas vezes de forma proposital,
são descartadas.
Exercícios como
construção conjunta de agendas, controle e participação social, análise histórico/política,
educação des”colonialista” e respeito ao indivíduo e ao coletivo no
entendimento a um território transnacional, o combate a rromafobia, feminismo
romani e dignidade humana são parte das nossas reuniões semanais e mensais. Dentre
outras.
Temos como desafio
implementar o disposto na assembleia de 12 anos da AMSK/Brasil, ampliar as
bolsas de estudo, ampliar programas e projetos como o Dosta – Basta – AMSK e OMG,
O sal da Terra no Rio de Janeiro com a Bibi, Amoras – com Ariadyne e as
crianças, Cozinha dos Vurdóns, A Política nacional de saúde e a Política de
etnicidade e saúde das américas, dentre outros.
Em 2021, assumimos o
desfio de construir o escritório da IRU no Brasil – International Romani Union
-, porque não podemos fazer de conta que vivemos numa bolha, que ativismo brota
de um dia para o outro. Não podemos ignorar que o número de agressões e
violências, especialmente as relativas a etnia – interna e externa - aumentaram
significativamente.
A AMSK, a Maylê de
hoje, assim como a fundada por mulheres fortes vai continuar caminhando, se
reinventando e ajudando a abrir estradas. Sem fleches.
Mas, deixo aqui alguns
questionamentos: a quem interessa a manutenção da pobreza, a apropriação da
cultura e o extermínio silencioso e secular de uma nação?
Assim, finalizo minha fala
com a leitura do manifesto conjunto da AMSK/Brasil, do GECIC – Grupo de Estudos
Cultura, Identidade e Ciganos, e do Observatório de Mujeres Gitanas em
reconhecimento à ADUNEB – Associação dos Docentes da Universidade do Estado da
Bahia.
Nota
Pública de Reconhecimento à ADUNEB.
“No
fundo é sobre silenciamento, coragem e respeito.”
Às
vezes o silêncio grita mais forte que a voz...
Às
vezes a coragem pula algumas gerações...
Por
vezes o respeito não pede licença.
Contam os jornais, os
celulares, as redes sociais que no dia 13 de julho de 2021, em José
Gonçalves/Município de Vitória da Conquista/BA - não que fosse de todo uma
história nova no Brasil “Colônia” do ano de 2021 - que entre contos, retóricas
e realidades, os anos de exclusão, apagamento, anticiganismo e omissão foram
todos colocados em prática. Tudo cobra seu preço e o mais caro é quando a vida
se vai. O silêncio, a coragem e o respeito são cartas seculares.
Alguns gritam, outros são
condecorados, ladeiam vitórias e com isso ganham cinco minutos de fama. Outros,
enfrentam gigantes e são covardemente assassinados, mesmo sendo quase uma
criança de 13 anos. Alguns alertam a luz dos dias, que os mortos têm nome, que
a história se repete. Tudo isso sob corpos. A violência não produz vencedores,
apenas órfãos. Não se trata de certo ou errado. Se trata da coragem em rasgar o
véu do anticiganismo e da rromafobia e com isso se estabelecem novos parâmetros
de dignidade humana.
Quando um professor/a se cala
diante a barbárie, perdemos a janela da vida. Quando um professor acolhe
cotidianamente o direito à vida dessas gerações, acolhe o choro cotidiano das
mulheres e mães que enterram seus filhos e filhas, quando lutam contra o
silenciamento, o desrespeito e o apagamento da existência de um povo, nesse
momento abrem-se as janelas do universo.
Aos professores e professoras
da Associação dos Docentes da UNEB (ADUNEB) –
que a coragem os acompanhe na defesa da vida, no combate à ignorância e à
violência. Obrigada pela resistência/respeito ao não apagamento histórico dos
Povos Romani no Brasil. Obrigada por não se silenciarem. Obrigada por respeitar
as gerações passadas, presentes e futuras.
Brasília-DF/Jacobina-BA,
01 de outubro de 2021
Associação Maylê Sara
Kalí Grupo
de Estudos Cultura, Observatório (AMSK/Brasil) Identidade e Ciganos (GECIC) de Mujeres Gitanas
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Elisa Costa - Bacharel em Ciências da Saúde Natural. Especialista em Fitoterapia (FUNIBER) e Homeopatia (UFV). Formação em Liderança Executiva para o Desenvolvimento da Primeira Infância – INSPER. Fellow ASHOKA/2018. É Feminista Români, ativista, militante e Defensora dos Direitos Humanos para a Rromá. Presidenta fundadora da AMSK/Brasil – Associação Internacional Maylê Sara Kalí - desde 2009. É delegada/Membro da IRU – Union International Romani e Diretora do escritório da IRU/Brasil. Membro da Frente Parlamentar Mista da Criança e do Adolescente/ Congresso Nacional.