OS LIVROS QUE CONTAM A HISTÓRIA DO “COPO DE LEITE” TÊM MUITAS LETRAS...MAS, É IMPERATIVO QUE SE LEIA.
No
Brasil vivenciamos momentos em que estão descritos nos livros de história sobre
o nacionalismo-socialista. Muda-se o calendário, a forma, mas a retórica é a
mesma.
Devemos
ficar atentas as falas de alguns gestores públicos e nunca esquecer os movimentos
realizados:
- Frases como "O trabalho, a união e a verdade libertarão o Brasil" remete a frase inscrita na entrada do antigo campo de extermínio de Auschwitz, durante a Segunda Guerra Mundial, "O trabalho liberta" ("Arbeit macht frei", em alemão).
- O pronunciamento em rede televisiva nacional, 16 de janeiro de 2020, do ex-Secretário Nacional da Cultura, Roberto Alvim, que exaltou o discurso de Joseph Goebbels, ministro da Propaganda da Alemanha nazista, antissemita radical e um dos idealizadores do nazismo. Assim como Goebbels havia afirmado que a "arte alemã da próxima década será heroica” e “imperativa”, Alvim afirmou que a “arte brasileira da próxima década será heroica” e “imperativa”.
- A comparação das medidas de distanciamento social decretadas pelos governadores brasileiros para combater a doença COVID-19 com os campos de concentração nazistas feita pelo Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Além disso, em 22 de abril de 2020, publicou um artigo com o título de "Chegou o comunavírus", embasado a partir da leitura do livro "Vírus" de Slavoj Žižek, que ele apresenta como um dos principais teóricos marxistas da atualidade. Lançando frases como “O coronavírus faz despertar novamente para o pesadelo comunista”.
- O vídeo da reunião ministerial de 22 de abril de 2020 que
revela como está sendo conduzida a economia do país para atender os interesses da
classe empresarial em detrimento da classe trabalhadora. Nessas circunstâncias,
o patriotismo exacerbado na fala de muitos dos participantes daquela reunião,
como a do Ministro de Estado da Educação, Abraham Weintraub, que defende uma
única cultura e um único povo no país: “Odeio o termo ‘povos indígenas’,
odeio esse termo. Odeio. O ‘povos ciganos’. Só tem um povo nesse país. Quer,
quer. Não quer, sai de ré. É povo brasileiro, só tem um. Pode ser preto, pode
ser branco, pode ser japonês, pode ser descendente de índio, mas tem que ser
brasileiro, pô! Acabar com esse negócio de povos e privilégios”.
- O ministro da Educação, Abraham Weintraub, em 27 de maio de 2020, em manifesto a ação recebida de inquérito, instaurada pelo Supremo Tribunal Federal, comparou a operação da Polícia Federal (PF) para combater fake news à Noite dos Cristais - uma ação violenta organizada pelo regime de Adolf Hitler, na Alemanha nazista, que marcou o início da perseguição aos judeus. O ministro comenta nas redes sociais: “Hoje foi o dia da infâmia, VERGONHA NACIONAL, e será lembrado como a Noite dos Cristais brasileira. Profanaram nossos lares e estão nos sufocando. Sabem o que a grande imprensa oligarca/socialista dirá? SIEG HEIL!”. Sieg Heil é uma expressão alemã que significa "salve a vitória" ou "viva a vitória". Foi muito utilizada durante o período nazista, sobretudo a partir dos anos 30, e conjugando-se frequentemente com a saudação de Hitler, ou seja, Heil Hitler, que significa "Salve Hitler".
Após
essas citações, dentre tantas outras, o “copo de leite” passa a ser um elemento
que aparece no cenário de pronunciamentos da gestão pública e no seu diálogo em
redes sociais.
Esse
simples ato da imagem de uma bebida branca em recipiente de vidro transparente
trouxe a eminente atenção baseada no fato de o movimento supremacista branco
norte-americano e de outras parte do mundo ter adotado o leite como um símbolo.
O
Especialista em Antropologia da Informática e Professor de Antropologia da
Universidade da Virgínia (EUA), David Nemer, em entrevista ao jornal O Correio chama a atenção: o
uso do leite como símbolo neonazista nos Estados Unidos ocorre, pelo menos,
desde 2017. Começou como uma brincadeira, mas depois acabou virando de fato uso
comum entre os supremacistas brancos. Em entrevista a Revista Fórum o pesquisador detalhou
“Nacionalistas brancos fazem manifestações bebendo leite para chamar a
atenção para um traço genético conhecido por ser mais comum em pessoas brancas
do que em outros – a capacidade de digerir lactose quando adultos. É uma
tentativa racista para se embasar em “ciência” p/ diferenciar e justificar a
“raça branca”. Mas como já provado e explicado por toda ciência: Não há
evidência genética para apoiar qualquer ideologia racista. O que há, é na
verdade, um governo tosco e motivado pelo ódio”.
A
antropóloga Profa. Dra. Adriana Dias em entrevista à Revista Veja, em 24 de janeiro de
2020, já alertava sobre o crescimento do movimento neonazista no Brasil. Em sua
pesquisa de doutorado intitulada Observando o ódio :
entre uma etnografia do neonazismo e a biografia de David Lane descreve a partir de
estudo etnográfico e da biografia do “Hitler americano” detalhes das conexões
do movimento em escala global, inclusive no Brasil. Para a especialista que há
anos pesquisa o fenômeno do nazismo “O leite é o tempo todo referência
neonazi. Tomar branco, se tornar branco”.
A
história revela que o leite ao longo dos tempos tem sido a bebida utilizada em
desfechos de cenas de filmes onde prenuncia atos de violência. Esses cenários
fazem parte da pesquisa realizada em 2016 pela Profa. Dra. Isadora Dutra
intitulada Os três copos de leite
mais perigosos do cinema que evidencia a mensagem dos cenários nos filmes Suspeita,
de Alfred Hitchcock em 1941, Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick em
1971 e Bastardos Inglórios, de Quentin Tarantino em 2009. A pesquisa explica
que a presença do close de objeto como fisionomia cria uma abertura de
possibilidades narrativas, a qual gera sentimento de expectativa e, através
disso, o suspense da obra: o conteúdo do copo pode estar envenenado (ou não), e
cada uma dessas hipóteses desencadeia desdobramentos opostos igualmente
possíveis e em suspenso (DUTRA, 2016, p.285).
Os
argumentos desses pesquisadores trazem a reflexão para não nos deixarmos contaminar
pelo ódio ou fanatismo ou alienação de pensamento nesse momento de conjuntura
social, econômica e política do país. Os livros que contam a história do “copo
de leite” têm muitas letras...mas, é imperativo que se leia para termos
argumentos contra o ódio, o fanatismo, os discursos de eugenia, o racismo, o
fascismo, e todas as formas de violência a dignidade humana.
AMSK/Brasil
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