Mesmo com tanta correria, algumas
tendências acompanhadas nos últimos anos de um Brasil debilitado e sem cor,
continuam a todo vapor. Nesta lista cada vez pior, estão a rromafobia e o
machismo.
Numa relação quase de irmãos gêmeos,
nos cabe e nos resta pouco a fazer, a não ser resistir.
As inúmeras piadas dispensadas as
mulheres e a propagação de que o Povo Romani não pode acampar, tem aumentado
muito, inclusive com o fato de que aluguéis vão começar a vencer e como
pagá-los sem renda?
Muitas mulheres são mantenedoras de
suas casas e de suas barracas e com a falta de trabalho, isso se agrava
rapidamente.
Nem sempre corremos a tempo para
acudir, as vezes o tempo não colabora e essas agendas de discussão se
multiplicam.
A rromafobia tem feito suas vítimas através
dos séculos e entraram para o cotidiano, fascista, racista e sectário. Incrível
como encontramos pessoas “de bem”, prontas para defender o acusador/o racista e
o agressor. Sim. Porque não vamos separar as três coisas aqui e como se isso
não bastasse, ainda contamos com o machismo, que estabelece suas formas de
relação cotidianas e acreditem, são imensas.
Não é hora de disputas infinitas e
infindáveis. Atrás de cada número existe uma pessoa, com rosto, com família e
com identidade própria. Essa é a hora de acudir a tod@s e em especial, precisaremos dar proteção as mulheres, as crianças e aos idosos.
Um amigo/primo espanhol nos dizia a
uns meses atrás: Quando as mulheres adoecem, a casa adoece junto, como explicar
isso aos gadjo (não pertencente a etnia)?
Em meio a Pandemia COVID19, nos
deparamos com mais uma forma de discriminação. Dessa vez ela está explicita: Saiam
daqui vocês podem estar trazendo o vírus para cá.
Veremos ainda nos próximos dias: A discriminação digital, a falta de suporte
assistencial, os despejos de uma imensa quantidade de pessoas que moram de
aluguel e a fome. A discriminação étnica estampada no descumprimento do PNDH 3
e em inúmeras recomendações internacionais. Teremos também de lhe dar com exploradores
do analfabetismo, exploradores politiqueiros tentando aprovar regras que
ficaram escancaradas nas suas impossibilidades e nas suas ineficácias. Tentativas
de leis que não asseguram ABSOLUTAMENTE NADA.
Amanhã iremos para o cadastramento
nacional, pouquíssimas organizações tem condição de fato de ajudar. Nós o
faremos. Entretanto estaremos exercendo o controle social e pós pandemia poderemos
informar o buraco que séculos de descriminalização aprofundaram.
Saberemos enfim, que quase nada
mudou das desculpas do Holokausto Romani ou da Peste Negra. Nomenclaturas como
Demônios, Pragas, Bruxas e outras do gênero, se seguem.
Esse será o tempo de aprendermos de
fato a encarar as coisas num Brasil que vem respaldando cotidianamente a
violência contra o diferente, construindo identidades folclóricas em
substituição a realidades étnicas e subjugando nossas resistências.
Em carta assinada hoje, dia
06/04/2020, a ANDES – Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de
Ensino Superior escreve em sua Nota:
O ANDES-SN está do lado de
movimentos sociais na luta contra as tensões e opressões, apoiando ações e
políticas antirracistas dentro e fora do Sindicato Nacional. Nesse momento,
diante de uma crise de saúde pública mundial, os povos e comunidades tradicionais
sofrem duplamente porque em primeiro lugar têm violados os seus direitos
fundamentais de acesso a bens públicos e coletivos, e agora são discriminados
mais ainda com a incidência da pandemia da Covid-19.
Nesse cenário, estão as populações
ciganas, que historicamente são alvos de racismo, preconceito e xenofobia. No
país afora assistimos a maus-tratos e perseguições em diferentes comunidades e
acampamentos e acompanhamos denúncias de pesquisadore(a)s,
entidades de defesa dos povos ciganos, ministério público e defensoria pública
acerca do sofrimento desse povo por negligência e abandono do Estado.
E segue: A pessoa racista e
preconceituosa às vezes se ampara em instituições, igualmente racistas e
preconceituosas, para distorcer fatos e usar algum estereótipo para destilar
seu ódio. Lembramos que para matar quinhentos mil ciganos, Hitler usou o
argumento das "raças superiores versus raças inferiores". Para
propagar a percepção de que cigano(a)s eram "demônios encarnados",
Heinrich Grellmann (1753-1804), filósofo, lingüista e historiador alemão,
utilizou matérias sensacionalistas de jornais que acusavam “os ciganos” de
canibais.
No meio dessa
Pandemia, que também irá produzir uma série de situações criminosas, lembramos
aqui de uma publicação que fizemos em 2017.
Entre folclores, fantasias,
rromafobias e estereótipos, acreditamos que a tendência será, infelizmente, um
período de atualização de velhas políticas e de novas formas discriminatórias.
Uma certeza nós temos. O Coronavírus
irá estampar as mais variadas faces de um preconceito secular, que hoje voltam
aos noticiários. Chamada de rromafobia ou como alguns chamam: ciganofobia,
iremos ver o aprofundamento da ignorância latente, que tal qual os governos de
extrema direita, esperam ansiosos o momento particular para saírem de seus
armários e nos brindarem com a exposição de suas misérias humanas.