POSSIBILIDADES E CONTRIBUIÇÕES DA GEOGRAFIA ESCOLAR PARA O POVO CIGANO
A
Geografia escolar na Escola Comum
A
Geografia Escolar sempre foi motivo de preocupação para quem esteve ou pretendeu
se manter no poder. Nesse sentido, cabe dizer que, por meio dos processos pedagógicos
e de ensino de Geografia, possibilita-se ao estudante uma visão ampla de todo o
contexto, seja de uma sociedade ou de qualquer espaço habitável ou não, uma vez
que essa disciplina estuda os aspectos físicos, políticos, sociais, entre
outros, possibilitando uma visão critica e detalhada do espaço em análise.
Fazendo
um panorama em algumas obras, mesmo que não cientificas, como é o caso d“A Arte
da da Guerra”, de Sun Tzu, sobre as grandes batalhas empreendidas pelos imperadores
chineses da época e seus oponentes, percebemos que estes utilizavam um fator importante
e muito restrito a poucos: além de conhecer, por meio de informantes, um pouco do
inimigo e sua táticas, conheciam o local em que se ocorreria a batalha. Isso
era fator-chave para sucesso ou derrota da guerra (SUN TZU, 2005) Desta forma,
eram informações preciosas a topografia do terreno da possível batalha, com
informações de localização dos combatentes, se haveria recursos e suprimentos
para a tropa, se o terreno ofereceria resistência maior para quem fosse
hostilizado.
Uma
importante referência, agora científica, mostra a gama de variedades e
propostas: “Geografia pode e é usada por muitos, principalmente para o
levantamento de informações que visam à manutenção do poder pelas grandes corpo
rações políticas e suas ramificações nas bases empresariais” (LACOSTE, 2005).
Sobre tal obra, em sua primeira edição, de 1976, trata Vesentini na
apresentação da 10ª edição: “A presente edição brasileira deste livro, nas
atuais circunstâncias é devera e oportuna. Devido a certas vicissitudes, as
idéias aqui expostas acabaram não conhecendo no Brasil a circulação e os debates
que elas merecem” (LACOSTE, 2005).
Neste
momento o Brasil vivia ainda sob o Regime Militar, que oprimia e usava meios como
a censura para impedir obras literárias e manter a escuridão de sua opressão. Neste momento, a Geografia no Brasil e o seu ensino desta
disciplina viviam algo muito alem da ditadura: a imposição de uma medida que
marcaria o ensino de Geografia e História, como segue:
Enquanto na universidade, na
década de 70 do século XX, os debates se acirravam em decorrência da busca de
novos paradigmas teóricos no âmbito do conhecimento em Geografia, a escola pública
de primeiro e segundo graus, hoje ensino fundamental e médio, enfrentava um
problema ocasionado pela Lei, 5.692/71: a criação de estudos sociais com a
eliminação gradativa da História e da Geografia da grade curricular
(PONTUSCHKA,
PAGANELLI, CACETE, 2007, p. 59)
Sendo
assim, Geografia tem um papel muito grande na formação dos cidadãos, pois com
sua síntese de conhecimentos, envolve desde a paisagem natural, com suas
belezas naturais, até a transformação desta natureza pelo homem, passando por
diversos fins, como as implicações de utilização desta paisagem, o porquê de
usar esse espaço, como esse uso afetaria o local onde as pessoas vivem, quais
seriam os agentes envolvidos. A Geografia possibilita ao professor e ao aluno a
visão política do local onde se dão todas as ações feitas com os mais diversos
fins, por diversos agentes modificadores desta paisagem.
Nesse
sentido, a Geografia com sua síntese de conhecimentos gera incômodos a
muitos,
uma vez que engloba conteúdos bióticos, abióticos, físicos, químicos, naturais,
artificiais, sociais, políticos e, sobretudo humanos. Por isso, é uma disciplina
que orienta e conduz o modo de ver a transformação do vivido por todos, algo
que deve ser tratado com respeito ou eliminado. Ainda nos anos 1970, uma nova
mudança na Geografia mundial, com a discussão de novos conceitos e metodologias,
mudaria as discussões em torno do foco dos estudos, passando-se para uma
ciência que abrangeria mais os conceitos humanos, considerando os valores
inerentes a estes.
Com o fim
do Regime Militar, a Educação brasileira sofreu muito em termos continuação dos
processos de formação escolar, pois a Educação entrou em crise e foi-se a qualidade
no ensino público brasileiro. A Geografia então se viu perdida em um turbilhão
de problemas e conceitos epistemológicos – afinal, a Geografia dos tempos do
Regime Militar ainda era uma Geografia de descrição e enumeração dos lugares; o
homem era apenas uma peça e a homogeneização fazia parte do processo em que
todos eram tratados de forma igual. Com o fator Homem na Geografia, novos
paradigmas começam a surgir:
A Geografia defronta-se, assim,
com a tarefa de entender o Espaço Geográfico num contexto bastante complexo. O
avanço das técnicas, a maior e mais
acelerada circulação de mercadorias, homens e idéias distanciam os homens do
tempo da natureza e provocam certo “encolhimento” do espaço de relação entre
eles (CAVALCANTI, 1998, p. 16).
Estas
eram as Geografias Criticas. No Brasil, os Geógrafos começam estudaram esta linha,
A discussão, neste momento, não era mais tratar todos de forma igual, mas sim
tratar de forma única os valores e a pessoa humana e as diferenças como
diferenças Alguns autores como Straforini, achava que a Geografia Critica nunca
foi apresentada de fato aos professores, que esta já foi criada e desde já
colocada pronta e acabada para que os professores já a ministrassem em seus
conteúdos
Na verdade a Geografia Critica
foi apresentada para a grande maioria dos professores através dos livros
didáticos, pulando a mais importante etapa: sua construção intelectual. Da
mesma forma que os conteúdos chegavam aos professores de maneira pronta e
acabada na Geografia escolar tradicional, os conteúdos sob a luz da Geografia
Crítica também assumiam o mesmo papel junto aos professores, ou seja, de
essencialmente dinâmicos, na Espaço Geográfico continuavam estático (STRAFORINI,
2006,p. 49-50).
Anteriormente,
os professores não ensinavam o auto-reconhecimento do homem dentro de seu
próprio espaço. Com esses novos paradigmas, o conflito se tornou mais visível, com
a possibilidade de mudanças e novas linhas de pesquisas. Problemas que ficaram
sem discussão no decorrer do ensino de Geografia, tais como as grandes mazelas
sociais da população e as novas concepções sobre a cidade com o meio de vida e habitat
de muitos que antes faziam parte das áreas rurais, as periferias urbanas, os
excluídos, o reconhecimento de uma variedade maior de raças e credos mesmo
limite urbano e suas diferenças.
Para o
Autor a Geografia Critica é construída todos os dias, seja em nossas casas,
quando
saímos às ruas e socializamos com os demais, no trabalho, na escola como
estudantes e professores, como consumidores, geradores de renda e misérias,
como poluidores do sistema, quando concordamos ou fingimos não ver que o rolo
compressor da injustiça ou dos interesses de grupos privilegiados subjuguem os
mais fracos.
Apesar
das questões novas para uma sociedade que teve uma abertura de possibilidades
com o fim do Regime Militar, principalmente nas questões escolares, ainda caminhou
se pouco, como argumenta Cavalcanti (1998).
Embora haja um significativo
desenvolvimento da pesquisa e da produção científica sobre a Espaço Geográfico
de ensino e no âmbito específico do ensino de Geografia, é sabido que os
avanços teóricos obtidos têm chegado muito lentamente à Espaço Geográfico
escolar, que permanece em boa parte respaldada em concepções teóricas
tradicionais, tanto do ensino quanto da Geografia. Por outro lado, os
professores têm insistido na procura de respostas a questões relacionadas com
as dificuldades de aprendizagem dos alunos (CAVALCANTI, 1998, p.11).
FRANCO ANDREI BORGES
Vale a pena ler esse material sobre escola e sua geografia "cigana". De fato mais um estudo que ajuda e muito na possibilidade e na criação de mais parcerias. Desvendar a educação das crianças ciganas em estado de intinerancia é muito mais que cumprir com o CNE 3. Trata-se de respeito, trata-se de enxergar o outro e dar a ele o direito de estar, ser e sonhar.
AMSK/Brasil