PRDC/MG, Edmundo Antônio Dias
Minas Cigana - BH, 26/05/2014
Não se enganem ... isso é história.
Audiência pública que é no meio
do acampamento, tem dessas coisas mesmo. O salto alto fica de lado, o sorriso
fica no rosto e a seriedade impregna o local.
No barro batido – o chão realça
aquela cor, meio de bronze, dessa gente linda que insiste em ser linda.
Já vi gente com raiva do sorriso
de uma cigana, que mesmo naquelas condições, sem jeito direito de se embelezar,
com o cabelo meio molhado e a fita transando o cabelo, com aqueles olhos que se
sabe lá de que cor são, não param de dizer a verdade sem uma única palavra.
Eita ciganada bonita, eita gente
profunda, de sentimento e de razão. Gente que fala com os olhos, gente que
acorda cedo, que almoça as nove da manhã e que trabalha duro, para que no final
do dia possa levar seu sustento pra casa. Gente que come um cortado, mas que
tem orgulho de dizer quem é e para que veio.
Assim vai chegando, cada carrão
... gente desconfiada, chique, gente simples, gente com abraço apertado, gente
da gente. De olho claro e voz mansa, corta o som do lugar – um doutor, Dr.
Edmundo, daqueles homens que sabem o peso das palavras e a brevidade dos
papéis. Procurador Federal, simples que nem todos, doido por gostar da gente
... segredo de quem disse.
Acima das cabeças, bandeirinhas
de todas as cores e muitos cartazes do Dia Nacional do Cigano, orgulhosamente
enfeitando o plenário. Esse levantado com as mãos de cada um, seguro pela
esperança daquele povo, que mal entende tanta palavra difícil, mas compreende
que a maioria daquelas autoridades já são de casa, já tomam café forte, já
fumam um cigarro no pé da barraca e já conversa olho no olho.
E dana a chegar gente, tinha
tanta autoridade, municipal, estadual e federal que não coube na mesa improvisada,
fazendo curva que tava, coube o mundo embaixo daquela tenda. Coube a felicidade
de ver andando aquilo que é direito, mas que muitos ainda veem como absurdo.
Absurdo é esgoto a céu aberto, é
criança com leptospirose no meio da capital do Estado. Absurdo é gente com medo
de ver a estrutura desabar, os filhos correndo descalços, com sorte que protege todas as crianças, sabe-se
lá se sorte ou se proteção das bandeiras do divino, numa festa com cigano de
todas as regiões. Quem sabe o oratório do divino, alicerçado no coração de quem
sabe e sente o ódio e a raiva no olhar do outro, desde que nasce.
E kalon que é kalon, fala claro,
fala reto, sincero e de olhar firme. Não treme e nem foge. É seu Carlos Amaral,
sorriso doce, abraço sincero, aperto de mão forte. É ele que comanda, com
dedicação absoluta a vitória que hoje se consagra. Ele, no auge da sua luta,
aprendendo com gente de verdade o caminho do futuro – sofrido e suado, daqueles
que deixam marcas no rosto e verdade nos olhos.
Dessa leva de gente, que anda de
um lado pro outro, pensando que o dinheiro jorra, quando o assunto é cigano, a
gente espera que a curva da estrada possa mostrar o que é cigano, não o ser
cigano, mas o homem que entrega a própria casa nas mãos de Deus, em busca de
amanhã ou depois, aqueles que do seu sangue dependem e da sua inteligência precisam,
possam formar seus filhos e dormir em paz.
Casa de cigano já foi estrada,
hoje é realidade.
Assim nós passamos passamos alguns dias por lá, respirando essa coisa que parece a casa da gente, que faz com que a verdade fique tão clara. Tivemos aquela sensação boa de quando se olha no olho e se sabe quem é quem não é. Passamos por lá e trouxemos isso que se chama família.
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AMSK/Brasil