E louvando em um dos maiores ciganólogos brasileiros: “...o cruzamento
com as três raças existentes efetuou-se, sendo o cigano a solda que uniu
as três peças de fundição da mestiçagem atual do Brasil”. (Mello Morais
Filho, Os ciganos no Brasil, p. 27)
E vou afirmar agora e em outras páginas deste trabalho que cigano nunca foi escravista e que levou a culpa sem reclamar.
Deus! Ó Deus! Onde estás que não respondes?
Em que mundo, em qu’estrela tu t’ escondes
Embuçado nos céus?
Há dois mil anos te lancei meu grito,
Que embalde desde então corre o infinito...
Onde estás, Senhor Deus?...
Que tem este poema e os ciganos em comum? Há estreita relação. Primeiramente, o poema é de Castro Alves[2] (1847-1871), em Vozes d’África. Inicio por ele porque diz muito. É uma metáfora que lembra Jesus pregado na cruz, quando, segundo o Evangelho, em desespero e dor teria perguntado: “Pai, por que me abandonaste?” Castro Alves, com sua vibrante poesia, fez um apelo à sensibilidade dos homens para que cessassem o comércio hediondo dos escravos.
Castro Alves tem descendência cigana. Está em Gilberto Freyre[3] (1900-1987) que, aliás, só fez em sua obra esta citação favorável aos ciganos. O grande sociólogo, autor de Casa-grande e senzala; Sobrados e mocambos e muitos outros livros sócio-antropológicos, é bastante cáustico com os ciganos.
Ainda Castro Alves, que em seu grande poema: Navio negreiro, nos dá uma pista quem eram os comandantes dos tumbeiros (navios que traziam escravos para o Brasil). Em certo ponto do seu poema, ele canta: “Auriverde pendão da minha terra, que a brisa do Brasil beija e balança...” Então a resposta a uma dúvida está aí: Os navios negreiros, tumbeiros eram brasileiros, portugueses e outros, sob a bandeira do Brasil. Incrível! Há quem diga que os ciganos eram donos desses tumbeiros. Gastão Cruls, por exemplo. Outros também afirmaram assim e todos erraram. Alberto da Costa e Silva[4], em seu livro: Um rio chamado Atlântico, registra, no capítulo Na margem de cá, p. 158, colaboração de Eduardo Portela, o seguinte: “Os negreiros tinham a maioria de suas tripulações formadas por marinheiros negros...”
Corroborando esta afirmação, recentemente foi lançado livro com título De costa a costa[5], onde se estuda em minúcias as tripulações do tráfico negreiro, na parte II, pp. 159-184. É só consultá-lo e convencer-se de que ciganos apenas foram bodes expiatórios no caso do tráfico de negros.
Brumas da história — ciganos & escravos, no Brasil – a verdade. Rio de Janeiro, RIHGB a. 163, n. 417, pp. 11-60, out./dez. 2002.
E vou afirmar agora e em outras páginas deste trabalho que cigano nunca foi escravista e que levou a culpa sem reclamar.
Deus! Ó Deus! Onde estás que não respondes?
Em que mundo, em qu’estrela tu t’ escondes
Embuçado nos céus?
Há dois mil anos te lancei meu grito,
Que embalde desde então corre o infinito...
Onde estás, Senhor Deus?...
Que tem este poema e os ciganos em comum? Há estreita relação. Primeiramente, o poema é de Castro Alves[2] (1847-1871), em Vozes d’África. Inicio por ele porque diz muito. É uma metáfora que lembra Jesus pregado na cruz, quando, segundo o Evangelho, em desespero e dor teria perguntado: “Pai, por que me abandonaste?” Castro Alves, com sua vibrante poesia, fez um apelo à sensibilidade dos homens para que cessassem o comércio hediondo dos escravos.
Castro Alves tem descendência cigana. Está em Gilberto Freyre[3] (1900-1987) que, aliás, só fez em sua obra esta citação favorável aos ciganos. O grande sociólogo, autor de Casa-grande e senzala; Sobrados e mocambos e muitos outros livros sócio-antropológicos, é bastante cáustico com os ciganos.
Ainda Castro Alves, que em seu grande poema: Navio negreiro, nos dá uma pista quem eram os comandantes dos tumbeiros (navios que traziam escravos para o Brasil). Em certo ponto do seu poema, ele canta: “Auriverde pendão da minha terra, que a brisa do Brasil beija e balança...” Então a resposta a uma dúvida está aí: Os navios negreiros, tumbeiros eram brasileiros, portugueses e outros, sob a bandeira do Brasil. Incrível! Há quem diga que os ciganos eram donos desses tumbeiros. Gastão Cruls, por exemplo. Outros também afirmaram assim e todos erraram. Alberto da Costa e Silva[4], em seu livro: Um rio chamado Atlântico, registra, no capítulo Na margem de cá, p. 158, colaboração de Eduardo Portela, o seguinte: “Os negreiros tinham a maioria de suas tripulações formadas por marinheiros negros...”
Corroborando esta afirmação, recentemente foi lançado livro com título De costa a costa[5], onde se estuda em minúcias as tripulações do tráfico negreiro, na parte II, pp. 159-184. É só consultá-lo e convencer-se de que ciganos apenas foram bodes expiatórios no caso do tráfico de negros.
Brumas da história — ciganos & escravos, no Brasil – a verdade. Rio de Janeiro, RIHGB a. 163, n. 417, pp. 11-60, out./dez. 2002.