A pouco tempo atrás, foi a menina cigana pisada nas praças da Grécia e agora .... a menina Maria, a história de contos de fada de uma europa que não reconhece seus filhos de origem cigana.
O Ministério do Interior da Bulgária informou nesta sexta-feira que
exames de DNA confirmaram que um homem e uma mulher da comunidade cigana
do país são os pais biológicos de uma menina encontrada com ciganos na
semana passada na Grécia. http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/10/131025_crianca_ciganos_dna_paternidade_fn.shtml
Maria, a menina encontrada num acampamento cigano na Grécia,
não é uma criança desaparecida ou raptada. É filha biológica do casal de
ciganos búlgaros Sacha e Atanas Rusev. Os testes de ADN provaram-no. E agora?
“Todos os países envolvidos nesta história são da União
Eurpeia. E o caso revela que a Europa não está conciliada com a sua própria
realidade. A Europa é diversa, tem todos os tipos de pele e a
maioria dos grupos étnicos do mundo, mas percebemos que a realidade sociológica
avançou mas que os nossos estereótipos não se adequam à realidade”, diz o
sociólogo Pedro Góis.
E diz mais: “Há na Europa um antagonismo contra os grupos de
ciganos, que impede que olhemos para eles como seres humanos iguais a nós. E
casos como este, amplificados desta forma pelos media, podem servir de
acelerador para os movimentos de extrema-direita pegarem no lado negativo desta
exclusão e criarem bodes expiatórios, como já aconteceu no passado.”
Nesse desfasamento, o preconceito ganha e o bom senso perde, como se viu na
Irlanda do Norte, onde outra menina loira foi retirada à família cigana com
quem vivia, para se provar com ADN que era filha daqueles pais.
Leia mais: http://www.publico.pt/mundo/noticia/maria-e-loira-de-olhos-verdes-e-filha-de-ciganos-bulgaros-pobres-e-agora-1610423#/0
O que nos cabe:
Só nas semanas entre 12 e 24 de outubro, acompanhamos em
jornais e redes de televisão de Portugal e Espanha, mais de 6 casos
relacionados a discriminação e preconceito com a Romá na Europa.
Verdade seja dita, as colocações que se fazem no Brasil, de
toda sorte são iguais as que se fazem por lá e que muito pouca gente deu importância
a fala do presidente da França, quando tentou arrumar mais ou menos as coisas
em relação ao caso de Leonarda, a menina de etnia cigana arrancada dentro de um
ônibus de estudantes, da escola da qual fazia parte.
Triste e feio a relação de países como a Romênia, a Grécia e
outros, que fazem de conta que a pobreza e suas conseqüências não passam pela
responsabilidade dos governos e pelo seu alto grau de discriminação.
O Bode expiatório de que fala o sociólogo é tão somente a
Segunda grande guerra, na qual se matou mais de meio milhão de ciganos.
Vai um alerta para o Brasil, países que costumam jogar seus
filhos para debaixo do tapete, fazendo de conta que a pobreza não lhes
pertence, cria um submundo, um terceiro e quarto setor que não aparece nas
negociações de apoio bancário e nem nas estatísticas.
Crianças são vendidas, mulheres traficadas para a
prostituição e muitos países assistem calados ou em boas negociações. Maria é
realmente filha de ciganos pobres, seu DNA comprova isso, de uma família
absurdamente pobre da Grécia, uma pobreza que a Europa como um todo finge não
ver, como a França finge ser socialista e o país da Liberdade, Igualdade e
Fraternidade, quando renega segurança a uma criança, única e exclusivamente por
ser de etnia cigana.
A exclusão está fazendo com que as famílias casem seus
filhos e filhas mais cedo, na tentativa de manterem uma saída para a manutenção
e para a sobrevivência dos seus. Isso é realidade. Comunidades ciganas inteiras
ficam fora das salas de aula no Brasil, porque não se respeita e não se
considera o modo de vida de cada um, sua especificidade e sua história. Tanto o
Brasil com sua dimensão continental e sua enorme variável étnica, quanto a
Europa que não acredita até hoje em ciganos loiros e de olhos claros, mesmo que
nas ruas de Portugal e Espanha se veja claramente sua pele clara e seus olhos
verdes, esmolando e tentando sobreviver, são os sobreviventes da Romênia. Lá
são a maior minoria étnica dos países que vivem e aqui são provavelmente uma
das menores etnias, com aproximadamente de 600 a 800 mil ciganos.
A luta é para que condições iguais sejam dadas e de forma
progressiva e constante, a fim de que estejam preparados para o mercado de
trabalho apesar da miséria. Assim vemos a Educação que rompe barreiras e abre
caminho, mas precisamos que saibam de fato disso e que se abram os livros de
história do nosso país para um povo que sempre ajudou na construção dessa
nação. Renegá-los a guetos é fácil, mas isso só no princípio, pois qualquer
povo empobrecido vai lutar para sobreviver e assim se torna alvo fácil para
todo aquele que ganha sobre a miséria alheia.
Programas que não mudem porque o governo mudou, que não
acabem porque se precisa economizar, não se economiza a vida alheia e não se
rouba o futuro de crianças inocentes.
Leonarda junto a uno de
sus hermanos (AFP) http://www.unionromani.org/notis/2013/noti2013-10-21.htm
Leonarda Dibrani, tem 15 anos, a 4 anos estudava na mesma
escola e suas notas eram muito boas. Leonarda representa a nova realidade
européia. No dia 10 de outubro, a Comisaria de Justicia Viviane
Reding, declarou publicamente no parlamento em Estrasburgo: “Estoy avergonzada
por haber oído las declaraciones de algunos Diputados”. E completou: “He
visitado recientemente un lugar en Bulgaria y he visto que nada menos que 50
000 personas vivían en un área restringida situada en el enclave más pobre del
lugar. Si yo me viera obligado a vivir de esa manera, créanme, yo haría todo lo
posible para salir de allí.”
De fato, o assunto passa pelo respeito e pela urgência de
atitudes mais sérias e pontuais, a história não pode ser esquecida e os bodes expiatórios
não podem ser única e exclusivamente os ciganos a detrimento de ações governamentais
fantasiosas e racistas.
AMSK/Brasil