MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO
CÂMARA DE EDUCAÇÃO BÁSICA
RESOLUÇÃO Nº 3, DE 16 DE MAIO 2012 (*)
Define diretrizes para o atendimento de educação escolar
para populações em situação de itinerância.
O Presidente da Câmara de Educação
Básica do Conselho Nacional de Educação, no uso de suas atribuições legais, e
de conformidade com o disposto na alínea “c” do § 1º do art.9º da Lei nº
4.024/61, com a redação dada pela Lei nº 9.131/95, e com fundamento no Parecer CNE/CEB
nº 14/2011, homologado por Despacho do Senhor Ministro de Estado da Educação, publicado
no DOU de 10 de maio de 2012,
Considerando o que dispõe a
Constituição Federal de 1988; a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(Lei nº 9.394/96); o Plano Nacional de Direitos Humanos de 2006; o Estatuto da
Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90); a Convenção nº 169 da Organização Internacional
do Trabalho sobre Povos Indígenas e Tribais, promulgada no Brasil, por meio do
Decreto nº 5.051, de 19 de abril de 2004; o Código Civil Brasileiro (Lei nº
10.406/2002) e a Convenção sobre os Direitos da Criança, ratificada pelo Brasil
por meio do Decreto nº 99.710, de 21 de novembro de 1990;
RESOLVE:
Art. 1º As crianças, adolescentes e
jovens em situação de itinerância deverão ter garantido o direito à matrícula
em escola pública, gratuita, com qualidade social e que garanta a liberdade de
consciência e de crença.
Parágrafo único. São considerados
crianças, adolescentes e jovens em situação de itinerância aquelas pertencentes
a grupos sociais que vivem em tal condição por motivos culturais, políticos,
econômicos, de saúde, tais como ciganos, indígenas, povos nômades, trabalhadores
itinerantes, acampados, circenses, artistas e/ou trabalhadores de parques de diversão,
de teatro mambembe, dentre outros.
Art. 2º Visando à garantia dos direitos
socioeducacionais de crianças, adolescentes e jovens em situação de itinerância
os sistemas de ensino deverão adequar-se às particularidades desses estudantes.
Art. 3º Os sistemas de ensino, por meio
de seus estabelecimentos públicos ou privados de Educação Básica deverão
assegurar a matrícula de estudante em situação de itinerância sem a imposição
de qualquer forma de embaraço, preconceito e/ou qualquer forma de discriminação,
pois se trata de direito fundamental, mediante autodeclaração ou declaração do responsável.
§ 1º No caso de matrícula de jovens e
adultos, poderá ser usada a autodeclaração.
§ 2º A instituição de educação que
receber matrícula de estudante em situação de itinerância deverá comunicar o
fato à Secretaria de Educação ou a seu órgão regional imediato.
Art. 4º Caso o estudante itinerante não
disponha, no ato da matrícula, de certificado, memorial e/ou relatório da
instituição de educação anterior, este deverá ser inserido no grupamento
correspondente aos seus pares de idade, mediante diagnóstico de suas necessidades
de aprendizagem, realizado pela instituição de ensino que o recebe.
§ 1º A instituição de educação deverá
desenvolver estratégias pedagógicas adequadas às suas necessidades de
aprendizagem.
§ 2º A instituição de ensino deverá
realizar avaliação diagnóstica do desenvolvimento e da aprendizagem desse
estudante, mediante acompanhamento e supervisão adequados às suas necessidades
de aprendizagem.
§ 3º A instituição de educação deverá
oferecer atividades complementares para assegurar as condições necessárias e
suficientes para a aprendizagem dessas crianças, adolescentes e jovens.
Art. 5º Os cursos destinados à formação
inicial e continuada de professores deverão proporcionar aos docentes o
conhecimento de estratégias pedagógicas, materiais didáticos e de apoio
pedagógico, bem como procedimentos de avaliação que considerem a realidade cultural,
social e profissional do estudante itinerante como parte do cumprimento do
direito à educação.
Art. 6º O poder público, no processo de
expedição do alvará de funcionamento de empreendimentos de diversão itinerante,
deverá exigir documentação comprobatória de matrícula das crianças,
adolescentes e jovens cujos pais ou responsáveis trabalhem em tais empreendimentos.
Art. 7º Os Conselhos Tutelares
existentes na região, deverão acompanhar a vida do estudante itinerante no que
se refere ao respeito, proteção e promoção dos seus direitos sociais, sobretudo
ao direito humano à educação.
Art. 8º Os Conselhos da Criança e do
Adolescente deverão acompanhar o percurso escolar do estudante itinerante,
buscando garantir-lhe políticas de atendimento.
Art. 9º O Ministério da Educação deverá
criar programas, ações e orientações
especiais destinados à escolarização de
pessoas, sobretudo crianças, adolescentes e jovens que vivem em situação de itinerância.
§ 1º Os programas e ações
socioeducativas destinados a estudantes itinerantes deverão ser elaborados e
implementados com a participação dos atores sociais diretamente interessados
(responsáveis pelos estudantes, os próprios estudantes, dentre outros), visando
o respeito às particularidades socioculturais, políticas e econômicas dos
referidos atores sociais.
§ 2º O atendimento socioeducacional
ofertado pelas escolas e programas educacionais deverá garantir o respeito às
particularidades culturais, regionais, religiosas, étnicas e raciais dos
estudantes em situação de itinerância, bem como o tratamento pedagógico, ético
e não discriminatório, na forma da lei.
Art. 10 Os sistemas de ensino deverão
orientar as escolas quanto à sua obrigação de garantir não só a matrícula, mas,
também, a permanência e, quando for o caso, a conclusão dos estudos aos
estudantes em situação de itinerância, bem como a elaboração e disponibilização
do respectivo memorial.
Art. 11 Os sistemas de ensino, por meio
de seus diferentes órgãos, deverão definir normas complementares para o
ingresso, permanência e conclusão de estudos de crianças, adolescentes e jovens
em situação de itinerância, com base na presente resolução.
Art. 12 Esta Resolução entrará em vigor
na data de sua publicação.
(*) Resolução CNE/CEB 3/2012. Diário
Oficial da União, Brasília, 17 de maio de 2012, Seção 1, p. 14