Porrajmos – Holocausto Cigano



Porrajmos – Holocausto Cigano

Uma fala de Juan de Dios para todas as datas, tristes e doloridas, que mancham o Povo romani

https://www.youtube.com/watch?v=UFC2EH1WG_w

( herança ou maldição? Pura ignorância ou empobrecimento?)


O fato é que muitos de nós, não conhece a própria história...

Separatismo, segregação racial, racismo...


Racismo é a convicção sobre a superioridade de determinadas raças, com base em diferentes motivações, em especial as características físicas e outros traços do comportamento humano.

Consiste em uma atitude depreciativa baseada em critérios próprios, abusivos, arrogantes e tendenciosos em relação a algum grupo social ou étnico.

Racismo  é uma maneira de discriminar as pessoas baseada em motivos raciais, cor da pele ou outras características físicas, de tal forma que umas se consideram superiores a outras. Portanto, o racismo tem como finalidade intencional (ou como resultado) a diminuição ou a anulação dos direitos humanos das pessoas discriminadas.

Tanto na Europa atual, quanto no Brasil atual, precisamos dar o alerta. A "era" da ignorância está prestes a voltar. Na Europa, avança a extrema direita e quem faz o alerta é a Union Romani da Espanha. No Brasil, aparecem em números menores, mas por aqui a segregação também acontece dentro da etnia. Ignorância? Desconhecimento? O governo ainda não conhece o suficiente para praticar a segregação, mas o separatismo, o recorte étnico/racial começa a manchar a pauta dos povos romani no Brasil.


Segregação racial é uma política que objetiva separar e/ou isolar no seio de uma sociedade as minorias raciais ou um grupo étnico específico. Na segregação racial os indivíduos ficam restritos a uma região delimitada, ou são criadas barreiras de comunicação social. Na segregação racial as pessoas ficam impedidas de usufruir dos seus direitos dentro da sociedade.

Um agravamento desse tipo de situação vem sido proposta de forma incessante no Brasil. Por cá as autoridades desconhecem boa parte dessa manipulação dos fatos. Muitos de etnia romani desconhecem o que aconteceu e, portanto, desconhecem a sua própria etnia e a sua trajetória. Esse é o fruto do escasso recurso que a educação, mesmo a básica poderia ter influenciado. São séculos de exclusão e a ignorância traz suas marcas. Toda a origem desse preconceito e separatismo, do racismo institucional ou do racismo clássico da sociedade, abre suas asas com as conversas, contos e controvérsias advindas da Europa ou de locais ditos - acampamentos ciganos. Em todas as levas que aqui chegaram. Recusar-se a observar os trechos dessa história, e dar as costas aos cidadãos e cidadãs brasileiros da etnia romani que vieram para cá, sejam por degredo real, rota de fuga, opção de vida mais segura e justa ou simplesmente como opção de sobrevivência da etnia após a I e a II Grande Guerra é fechar os olhos para o futuro, sepultando o presente e rasgando os livros de história. 

O Holocausto Cigano acontece hoje, de um jeito que nos obriga a falar.

Dizer que nunca ouve isso seria o mesmo que acreditar em contos de fada, existiu e existe, entretanto, de uns anos pra cá vem se tomando um caminho duplo essa situação. De um lado o governo tenta entender e tenta trabalhar na pauta, não consegue direito, mas já começou e do jeito certo. Vamos apostar e ficar atentos. Muitos representantes ciganos enxergaram que o separatismo e a divisão é absurda, emperra qualquer avanço e normalmente é praticada por quem tem medo da sua própria identidade. Separar e dividir para comandar sem ser colocado a prova, assim qualquer ignorância ou absurdo que dizer está dito. Ninguém contesta.


Separatismo: Movimento político ou religioso que prega separação ou independência.

Propensão que tem determinado território de um Estado de separar-se deste para estabelecer um Estado independente.

O diálogo com comunidades e governo vem aumentando de forma progressiva, mas, turbulenta; assim existe a esperança de que em breve o Brasil consiga produzir seu próprio material de trabalho e estudo, sem o fantasma nocivo de tanto estereótipo: homens de lenço na cabeça “como os piratas” e mulheres cobertas de ouro (fantasias de jóias baratas) e saias de sete metros com brilhos e lantejoulas – carregar baldes de água com essas saias nunca foi possível, nem na Índia, na Rússia, na Romênia ou na Espanha, assim como não é no Brasil, nem no nordeste, nem no sul do país, mas sabemos como é fácil enveredar pela política de: “faça-os calar” é mais assertivo para muitos desavisados de plantão. 

Os soldados soviéticos capturados eram usados para trabalhos forçados, e muitos morreram porque foram assassinados ou por haverem sido severamente torturados e, no total, mais de três milhões deles morreram nas mãos dos alemães.
Vinte e três mil ciganos alemães e austríacos foram prisioneiros em Auschwitz, e cerca de 20.000 deles foram mortos naquele local. Homens, mulheres e crianças ciganas eram confinados em um campo separado. Na noite de 2 de agosto de 1944, um grande grupo foi executado em câmaras de gás durante a destruição do "campo para famílias ciganas". Aproximadamente 3.000 pessoas foram mortas, a maioria delas mulheres e crianças. Alguns dos homens foram enviados para campos de trabalhos escravo na Alemanha, onde muitos morreram. Centenas de milhares de ciganos de toda a Europa ocupada pelos alemães foram mortos nos campos e pelos esquadrões móveis de extermínio.

2 e 3 de AGOSTO DE 1944

"CAMPO CIGANO” EM AUSCHWITZ É FECHADO.


Vinte e três mil ciganos da etnia romani foram deportados para Auschwitz-Birkenau e colocados em uma parte separada do campo. As condições naquele local eram extremamente ruins. Praticamente todos os romanis de Auschwitz foram mortos nas câmaras de gás, trabalharam até morrer de cansaço, ou foram vítimas de fome e doenças. Os nazistas consideravam os ciganos como racialmente inferiores, e seu destino foi muito semelhante ao dos judeus. Nos dias 2 e 3 de agosto de 1944, o “campo cigano” em Auschwitz-Birkenau foi fechado. Os romanis restantes, entre eles homens, mulheres, velhos e crianças, foram mortos nas câmaras de gás. Mais de 220.000 ciganos foram exterminados pelos nazistas durante o período do Holocausto.

Copyright © United States Holocaust Memorial Museum, Washington, D.C.

A visão que se agiganta ultimamente é a da extrema direita de Le Pen – na França, muito comentada pelos especialistas na Espanha, em especial pela comunidade Romani, o fato é que as últimas Manchetes que causaram impacto na Grécia – no caso da criança que foi pisada em praça pública e o caso da Menina Maria, erroneamente condenada a não viver com os pais por não se parecer fisicamente com eles, trouxe a tona a velha lenda do “roubo de crianças”, um dos mais fortes estereótipos (antigo e atuai) contra os povos de etnia romani.



Por não terem para onde ir, sem ter quem os acolhesse, muitos sobreviventes tiveram que se permanecer em Campos para Deslocados de Guerra (DPs) estabelecidos no oeste da Europa sob a administração militar das Forças Aliados, no mesmo local dos antigos campos de concentração. Lá, eles esperavam para obter vistos de imigração para os EUA, África do Sul, Brasil, e Palestina [OBS: área do antigo Reino de Judá, que na antiguidade havia sido denominada Palestina pelos romanos como forma de punição aos rebeldes judeus que lutavam contra Roma; desde os tempos antigos quem ali nascesse ou vivesse, independentemente da religião ou etnia, era chamado de palestino]. A princípio, muitos países mantiveram suas políticas de imigração restritivas, o que limitava imensamente o número de refugiados aceitos. Na época, o governo britânico, que controlava a parte do Oriente Médio onde futuramente surgiria o Estado de Israel.

Copyright © United States Holocaust Memorial Museum, Washington, D.C.

Traça-se novamente a política de “faça-os andar” tão claramente descrita pelo Pesquisar Frans Moonem, em seus relatos sobre as políticas no Brasil. Desconsiderar a contribuição desse povo para o estabelecimento de uma nação Brasileira, foi um duro golpe nas gerações que se seguiriam até hoje e de fato isso aconteceu.


“...o cruzamento com as três raças existentes efetuou-se, sendo o cigano a solda que uniu as três peças de fundição da mestiçagem atual do Brasil”. (Mello Morais Filho, Os ciganos no Brasil, p. 27).

No Brasil a notícia de que os ciganos que ainda acampam de forma provisória ou nos moldes antigos, tornam-os vítimas de várias observações preconceituosas e de várias denominações errôneas – os ciganos não possuem nome, apenas ciganos. Isso se repetiu antes, se repete hoje e provavelmente irá se repetir de forma consistente e abrupta por mais alguns anos. De início pensamos que em países como a Espanha essa visão se distancia da realidade brasileira, mas não é bem o que estamos acompanhando. Mesmo que de forma bastante espaçada, os fatos ocorridos em Estepa/ES  avançam como revoltas populares, numa clara referencia ao ódio. http://www.unionromani.org/notis/2014/noti2014-07-07.htm

Vamos ressaltar, ainda, algumas das cidades e vilas onde leis contra os ciganos foram elaboradas. É o exemplo de Salvador, onde "na memória sobre o Estado da Bahia, de Francisco Vicente Viana (1898), está o informe de que aos ciganos recém-chegados era proibido 'falarem da gíria e ensiná-la a seus filhos'" (Tourinho, s.d.).

Aprender com o passado é de fato imprescindível para a análise assertiva de propostas para o presente e o futuro. Em algumas regiões do Brasil, o agravamento dessas situações são absurdas e se agigantam diante da pobreza, em regiões específicas da Bahia onde o desconhecimento é enorme por parte de autoridades. Essas mesmas situações são vistas de forma recorrente, entretanto, começamos a avançar. De fato a informação ilumina essa estrada. Mesmo que formado pela dor e pela tristeza do extermínio em massa, o Museu do Memorial do Holocausto - Holocaust Memorial Museum, Washington, D.C. United States, representa um local de memória viva, das vidas que se foram, pela ganância, separatismo, segregação racial e racismo.

Nos últimos 3 anos, uma cigana e três ciganos foram assassinados: Juaquim Targino, 42 anos, conhecido por Polô, assassinado a tiros em 12 de setembro de 2011 na cidade de Jucurutu; Geralda Maria Rodrigues, Geralda Cigana, 46 anos, sequestrada em Messias Targino e morta em Florânia com um tiro na cabeça no dia 14 de novembro de 2012; Wanderlânio Garcia de Araújo, 44 anos, conhecido por Jussier Cigano, foi assassinado a tiros na cidade de Umarizal em 7 de dezembro de 2012; Francisco das Chagas Bezerra Junior, 25 anos, conhecido por Charle Cigano, foi assassinado a tiros em 29 de setembro de 2013 na cidade de Apodi.


Em todos os casos as informações sobre as vítimas são imprecisas, e não se sabem as causas que levaram às mortes. Os ciganos e a cigana assassinados estavam, aparentemente, ligados às cidades em que viviam, e no momento da morte não ofereceram resistência diante de seus assassinos. Todos foram pegos de surpresa. A polícia ainda procura resolver os crimes, mas os próprios ciganos não acreditam numa resolução rápida e eficiente. Infelizmente, muitos deles já se acostumaram com a exclusão e hoje vivem como podem, sem esperar que a sua condição social se altere.

***
A história dos ciganos tem demonstrado que a imprensa, as leis e em boa parte as artes têm contribuído para o processo de desqualificação e, por conseguinte, a exclusão de grupos ciganos espalhados pelo mundo, o que constatamos também no Brasil. Um dos relatos mais paradigmáticos que conhecemos dessa condição foi divulgado pela pesquisadora e jornalista Isabel Fonseca (1996, p.340), num livro cujo título foi inspirado em fala do cigano Manush Romanov, quando de sua viagem a Sófia. Ao deparar com a condição miserável dos ciganos naquela região, ele exclamou: "Prohasar man opre pirende – as muro djiben semas opre chengende" (Enterrem-me em pé. Passei de joelhos toda a minha vida).

Revista Brasileira de História

On-line version ISSN 1806-9347

Muitos sobreviventes judeus puderam reconstruir sua vida em novos países, porém muitas vítimas não-judias das políticas nazistas continuaram sendo perseguidas na Alemanha. Em algumas partes daquele país, leis que discriminavam os ciganos continuaram em vigor até 1970, assim como a lei criada pela Alemanha nazista para prender homossexuais, a qual continuou em vigor até 1969.

Inicialmente, os campos funcionavam como parte do sistema de repressão contra os oponentes políticos do estado nazista. Nos primeiros anos do Terceiro Reich, os nazistas prendiam principalmente comunistas e socialistas, mas por volta de 1935 o regime também passou a perseguir aqueles que eram considerados


” racial ou biologicamente inferiores”,


principalmente os judeus e ciganos. Durante a Segunda Guerra Mundial, a organização e escala do sistema nazista de campos se expandiu rapidamente e o propósito dos campos foi ampliado: além de locais de detenção, os campos passaram a guardar prisioneiros para o trabalho escravo e para o assassinato puro e simples. Copyright © United States Holocaust Memorial Museum, Washington, D.C.

O que mais impressiona é que na base de tudo isso, o início de ontem e o início de hoje, está tão somente a “raça pura”. A demarcação étnica. Há 70 anos acabava a 2ª Grande Guerra Mundial, quando a grande pena era não ser puro, então se separava as pessoas, catalogava por triângulos coloridos. Hoje, são os desavisados, que desconsideram que o medo da identificação ainda paira no ar, que não se pode escutar sobre demarcação ou recorte étnico racial e, portanto desconhecem que identificar e catalogar; representa a volta ao pesadelo.

Ao tempo em que nos preocupamos na contagem dos acampamentos, lutar por melhores condições de vida para esses locais, lutando por políticas públicas assertivas, já que estão na visibilidade “totalmente oculta”. Poder se auto declarar ou não é a totalização da liberdade de se expressar e até chegarmos nesse ponto, precisamos avançar nos diálogos.

Sabemos que evoluir sem perder a dimensão da cultura é muito difícil, entretanto, as bases dessa cultura milenar deve ser respeitada, tornando possível a garantia dos direitos humanos, os quais são fundamentais para a sobrevivência.


Foto – [prisioneiros] Prisioneiros uniformizados, marcados com distintivos triangulares, são reunidos pela guarda nazista no campo de concentração de Sachenhausen. A cor de cada triângulo indicava se o prisioneiro era um "inimigo político", um "criminoso comum", um "emigrante", uma "Testemunha de Jehová", um "anti-social", um "homossexual", ou um "cigano". Foto tirada em Sachsenhausen, Alemanha, 1938.

National Archives and Records Administration, College Park, Md.
Copyright © United States Holocaust Memorial Museum, Washington, D.C.

Textos e Pesquisas para documentação.
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